quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Em Alcácer, Liberdade de Expressão, um valor a defender!

Na sequência de uma proposta do deputado do Bloco de Esquerda, a Assembleia Municipal fez uma recomendação ao Executivo Camarário para que analise a participação das forças políticas presentes na Assembleia na “Folha de Alcácer” (o boletim municipal).


Para debater essa participação foi agendada, para 26 de Fevereiro (terça-feira), uma reunião de deputados municipais das várias bancadas com o Sr. Presidente da Câmara.

Seria útil uma descrição pormenorizada dessa reunião. Diremos apenas que, depois de uma acesa discussão, a proposta final do Sr. Presidente Paredes foi a seguinte:

- a adição de um encarte à “Folha de Alcácer” em que cada partido, proporcionalmente, teria espaço desigual. Segundo o esboço apresentado, nesse encarte seriam atribuídos 2000 a 2500 caracteres para o PS e igual número para a CDU, 1200 a 1700 caracteres para o BE e igual número para o PSD. Curiosamente, o PS aparece agora a defender a proposta feita pela CDU na Assembleia.

- a inclusão na “Folha de Alcácer” de um espaço para divulgação dos trabalhos da Assembleia que, como o Sr. Presidente explicou, não será pré-determinado, não terá periodicidade, aparecerá naturalmente e será da responsabilidade do director – o próprio Presidente Pedro Paredes.

PS e CDU não contestaram estas propostas - o PSD esteve ausente da reunião. Não foi essa a posição do Bloco de Esquerda.

O deputado do Bloco de Esquerda entendeu que a adição de um encarte à “Folha de Alcácer” é, no mínimo, discutível. Não tem a Assembleia Municipal dignidade para estar presente no boletim? Que razão sustenta esta opção? Não obtivemos resposta. De resto, não é aceitável a desigual repartição do espaço gráfico. Terão uns direito, numa publicação autárquica, a expressar as suas ideias com clareza e outros de forma telegráfica? Que nome podemos dar a esta atitude?

Quanto ao espaço destinado à Assembleia, é de registar que não constava da proposta inicial de Pedro Paredes. Ele surge na sequência da intervenção deputado do Bloco de Esquerda. Não obstante, pelo que fica dito acima, percebe-se que a solução proposta pelo Sr. Presidente não é aceitável. O deputado do Bloco confrontou-o com o facto de a Assembleia ser uma instituição distinta da Vereação. O Sr. Presidente anuiu, e disse mais, compete à Assembleia fiscalizar a Câmara. Assim sendo, foi-lhe dito: como pode o Presidente da Câmara querer controlar a opinião do órgão que fiscaliza o seu trabalho; essa posição não é sustentável. Resposta do Sr. Presidente: Não é sustentável mas é a minha!

Esta última frase é exemplar. É exemplar da postura do Sr. Presidente durante toda a reunião, uma postura nada condigna com o cargo que exerce. Ser autarca é antes de mais pugnar pelos valores da Democracia, da Liberdade e da Cidadania. Nunca o contrário!

Infelizmente, parece haver quem tenha dificuldade em lidar com a liberdade de expressão e, por isso, a tente condicionar. Não é aceitável que o Sr. Presidente inicie a reunião dizendo que estão proibidos os ataques pessoais na "Folha de Alcácer" porque ela não servirá para falar da corrupção na Câmara, como o deputado do Bloco de Esquerda fez na Assembleia. É ainda menos aceitável que, ao longo de toda a reunião, persista numa deriva censória como se viu no exemplo supracitado.

É legitimo solicitar ao Presidente da nossa Autarquia que esteja disponível para ouvir e dialogar. Já agora, que quando confrontado por um deputado com as suas contradições, não resvale para a incorrecção e o desnorte, e não responda com um desconsolado: a porta está aberta, se não estiver bem, faça favor de sair. Como lhe foi dito, Sr. Presidente, quando o faz, está a faltar ao respeito ao autarca eleito pelos munícipes.

A reunião foi inconclusiva. Como é lógico o Bloco de Esquerda não transigiu com a proposta do Sr. Presidente Pedro Paredes. Mas, seja como for, a reunião teve um mérito. Demonstrar como a liberdade de expressão não é um valor adquirido. Poderá até nem o ser para quem tem como função, justamente, a sua defesa. Sê-lo-á sempre para o Bloco de Esquerda, que tratará de a defender a qualquer preço.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Comporta e as 1ªs Invasões Francesas


Sabia que durante a 1ª Invasão Francesa por parte das tropas de Napoleão Bonaparte, a Comporta foi um importante entreposto de tropas portuguesas?





Decorria o ano de 1807 o comandante Francisco Solano avançava para o Alentejo com uma divisão de cerca 9.500 efectivos, direito a Setúbal para tomar posse do sul do país em nome do Príncipe e da paz.

Jean-Andoche Junot, coronel-general dos Hussardos, que exercera as funções de embaixador de França em Lisboa em 1805, foi o homem escolhido por Napoleão para comandar cerca de 26.500 homens que iriam invadir Portugal.

Decorria o mês de Agosto do ano de 1808, tropas portuguesas estacionadas em Alcácer, Grândola, Santiago do Cacém, Setúbal, Melides, Montalvo e Comporta, iam comunicando entre si.

Aqui ficam algumas transcrições das mensagens enviadas na época:



Copia de uma carta do major Carlos José Luzeiro à "Junta " em Santiago do Cacém:

“…O preso que lhes remeto é de circunstância, por ser espia do carregador de Setúbal. Informei-me a respeito dele com algumas pessoas que aqui se acham de Tróia, que me disseram que era bem preso. V. s.ªs farão dele o que melhor lhes parecer.
As noticias que acabamos de receber de Setúbal, põe espanhóis que aqui chegaram fugidos, são que todos os franceses que estavam em Setúbal se acham em Palmela.
Sabiam V. s.ªs que o ultimo pagamento das forças que comando, já alguns oficiais o fizeram á sua custa.

Deus guarde a v. s.ªs muitos anos. Quartel da Comporta, 11 de Agosto de 1808. = Carlos José Luzeiro de Reboredo.”




“…E como no sítio da Comporta ainda há 300 homens a sustentar, é necessário que v. ex.ªs com a maior brevidade façam remeter aqui 1.000$000 réis em metal, ou mandem ordem a todos os recebedores de sisas, decimas, tabacos, etc…, para aprontarem a dita quantia, e a remetam aqui sem falta até ao dia 20 do corrente…”

“…fizessem marchar as forças auxiliares do Algarve para Alcácer, passando o Sado a S. Bento, e destacando 200 soldados para esta vila(Santiago) para irem socorrer Montalvo, onde devem reunir-se as forças da Comporta,…”


Na época a Comporta pertencia ao Principado-dos-Algarves

“…relativamente aos rendimentos do paul da Comporta, a que vamos responder. O referido paul pertence a este termo e ao de Alcácer. Havia nele vários frutos pendentes, um rebanho de gado vacum e alguns outros gados, tudo pertencente á casa da princesa nossa senhora, e outrora do infantado. Era tudo administrado por um só almoxarife, que residia em Setúbal em poder dos inimigos, no tempo em que esta junta tentou reprimir as suas correrias, alistando tropas, armando-as e municiando-as. Par estas despesas foi a junta obrigada a lançar mão dos ditos rendimentos, e de algum do dito gado,…”


Em Setembro de 1808 o tenente general Hope, comandante das tropas britânicas anuncia em Lisboa, que Portugal está livre das tropas francesas.

Por: Carlos Cordeiro

fonte:1808 Santiago do Cacém e a 1ª Invasão francesa
Junta de Freguesia de Santiago do Cacém
 Gentil José Cesário

sábado, 23 de janeiro de 2010

Tudo Muda

Muda o superficial
Muda também o profundo
Muda o modo de pensar
Muda tudo neste mundo

Muda o clima com os anos
Muda o pastor e seu rebanho
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

Muda o mais fino brilhante
De mão em mão seu brilho
Muda do ninho o pássaro
Muda a sensação de um amante

Muda o rumo do andarilho
Ainda que isto lhe cause dano
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O " Canto " da Avestruz

O “canto” da Avestruz:





É sabido que a Avestruz não canta, apenas emite sons. Sendo um animal de grande porte, comporta-se como alguns seres humanos ao enterrar a cabeça na areia. Ser Avestruz na zona da herdade da Comporta é fácil, quando toca ao enterrar da cabeça.

Desde hà uns anos a esta parte, estamos a ser atravessados por uma “moda”, que acha a herdade da Comporta um lugar chique e paradisíaco.


Vir passear, comer, inflacionar, deixar lixo, bisbilhotar, adoptar ar de superior etc… etc… são expressões na maior parte dos casos, de desrespeito, para com as populações que construíram a pulso, suor e lágrimas, estas aldeias que hoje todos acham uma “gracinha”.

As entidades e instituições que deveriam e deverão intervir, para que se previna e cuide dos problemas e necessidades dos habitantes desta freguesia, são as grandes responsáveis do que vai acontecendo e ao mesmo tempo quando se está desagregando um património cultural único, no distrito de Setúbal.

De “mansinho” se vão tramando imensas maldades para com o nosso povo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

É para vocês " Camaradas da CDU "

Olá camaradas:





Balona, Rebola, Maria José e outros, em que só muda o nome mas não muda o conteúdo.

Chamo-me Zacarias, vim da terra dos oportunistas, aqui o meu nome não interessa, pois podia chamar-me de “Zé Qualquer”.
Cheguei à mais de 20, 30, 40, 50 anos, sei lá… podia ter chegado ontem que a treta é a mesma.
Sou um dos que conheceu as caras que se repetem.Caras com tons de ignorância, arrogância, prepotência e outras palavras acabadas em “cia”, onde não se inclui “democracia”.

O bem estar e as necessidades do POVO, não é feito de astúcias malandrecas cuja  intenção  é apenas isso.

Do Torrão à Comporta a vida do quotidiano passa pela urgência na resolução de problemas, que afectam a maior parte da população; principalmente a juventude que foge a “sete-pés”, desde à muito deste concelho.

Todos agradecíamos que a canalização de esforços, fossem de encontro às reais necessidades do Concelho de Alcácer do Sal e neste caso concreto da Comporta. Mas isso parece não ter sido uma preocupação vossa, nem no passado e muito menos no presente.

Votaram “contra” um orçamento municipal, mas tudo foi fictício por parte da CDU (oposição só onde convém).

Lançam para a rua comunicados com um conteúdo vazio de bases legais e éticas, onde são ocultadas as verdades, ou melhor dizendo( só parte de uma verdade ).

Desencadeiam uma “guerra” direccionada ao Bloco de Esquerda, ao P.S., e por distração a todos os outros que não se revêem em qualquer partido político. Uma ”guerra” onde os ideais só atraiçoam as reais necessidades das pessoas.

Está na hora de certos elementos da CDU deixarem de ter essa vontade colonizadora e manipuladora , e fingirem quererem ir(vir) “resolver” os problemas em terras alheias.

A política discute-se em sede própria (assembleias), e na Comporta também há um lugar com esse nome. A não ser que se mande calar os que por legitimidade têm direito à palavra!?

Propaganda que saltita nas ruas e que entra nas caixas de correio de casas desabitadas; é a isto que chamam esclarecer e resolver os problemas do nosso POVO?

Não compete ao Bloco de Esquerda responder e ser responsabilizado pelos erros do passado e do presente.
A memória da nossa história local, pode ser reavivada !
Compete à CDU fazer uma auto-análise dos erros cometidos, a bem da Freguesia da Comporta e das suas populações.
Aqui fica um poema de Fernando Pessoa que ilustra parte desta Odisseia.
Obrigado amigos do Comporta-Opina por me deixarem pôr aqui o meu desabafo!

COLOMBOS

Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

Fernando Pessoa, in Mensagem

sábado, 16 de janeiro de 2010

Haiti: Como Ajudar?


Porque o mundo somos todos nós e porque amanhã pode acontecer cá!
Morrer com fome? Com sede? Com falta de um medicamento? Isto já não devia ser possível...
Crise? Um pequeno donativo pode fazer a diferença entre uma vida ou uma morte...

As formas de donativo para o Fundo de Emergência da Cruz Vermelha Portuguesa - apelo vítimas do Haiti:

Nas caixas multibanco ou por netbanking, optando por «pagamento de serviços» e marcando entidade 20999 e referência 999 999 999.

Caso queira dar um donativo à AMI (Assistência Médica Internacional):
Ajude a Missão da AMI no Haiti Contribua para esta missão através do NIB: 0007 001 500 400 000 00672 Multibanco: Entidade 20909 Referência 909 909 909 em Pagamento de Serviços

Retirado do site da RTP1

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Exmo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal

Vimos por este meio apresentar o nosso descontentamento perante a falta de oportunidades que o Concelho apresenta aos jovens.

Não é necessário despender grandes investimentos, nem monetários nem temporais, para compreender que a capacidade do concelho para apresentar estabilidade aos jovens é inexistente. Também não é necessário ser muito inteligente para compreender porquê, mas mesmo assim nós ajudamos.

Vamos falar aqui da Comporta, que é do que temos melhor conhecimento de causa, embora acreditemos que se estende ao resto do Concelho.

Começamos por insistir no ponto que mais nos preocupa, a desertificação da aldeia em prol de um turismo sazonal. Convidamos o Senhor Presidente a visitar a Comporta num dia de semana (ou mesmo sem ser) fora da época de Verão, e depois venha-nos explicar porque é que não se vê ninguém.

Mas se não tiver disponibilidade para tal, nós explicamos.

EMPREGO? Onde está? O comércio local, onde a hotelaria se releva, sustenta-se principalmente no turismo. Os comerciantes mal têm recursos para poderem sobreviver ao enorme Inverno. Os empregos que eles podem oferecer é na altura do Verão, depois disso mal têm para manter o negócio. Que emprego é que a Comporta pode mais oferecer? Na Carrasqueira temos a pesca, mas também esta por vezes se torna complicada. Oportunidades para os jovens? Não há! Nem para os mais jovens, nem para os menos jovens, independentemente das habilitações literárias.

HABITAÇÃO? Nem pensar! Os terrenos são vergonhosamente vendidos à licitação mais alta. Para a Câmara é fantástico, porque ganha uns trocos. Para quem tem dinheiro, também! É um investimento para aqueles que depois os vão vender por um bom dinheiro. Para quem não tem? Também, pede-se um empréstimo, e depois recupera-se o dinheiro e ganha-se mais algum para comprar uma boa casa noutro sítio qualquer.

Quantas pessoas compraram terrenos e estão realmente a usufruir deles? A Câmara não vê isso? Não precisam de cá vir, basta fazerem uma breve pesquisa na internet para verem que as pessoas ou estão a vender os terrenos ou as casas.

E quem quer realmente cá ficar? Quem trabalha no Concelho, quem quer contribuir para o desenvolvimento? Não pode! Porque a Câmara não tem o menor interesse em ver realmente quem precisa de casa, quem quer realmente morar cá... Será assim tão difícil? Não haverá forma de entregar os terrenos de forma honesta a quem precisa deles? Grândola consegue fazê-lo no Carvalhal... E é aqui tão perto, e as pessoas têm outro tipo de oportunidades e ficam mesmo lá!

SAÚDE? Ir para a porta do consultório às 5 da manhã? Nem vale a pena continuar...

E poderíamos continuar com a lista, porque a continuar assim, qualquer dia não vai ter eleitores. O Concelho vai viver na sombra de um turismo elitista que só interessa em questão de euros... e não sabemos muito bem a quem...

Agora que dizem que vão sair terrenos, veja bem o que lhes vai fazer... Pense no povo e não no dinheiro...

Com muito mais assuntos, com os melhores cumprimentos,

Comporta Opina

domingo, 10 de janeiro de 2010

Embarcação tradicional: " Galeão do Sado "


Galeão “Reconverte-se” ao Sal




“Cerca de 1920, aparece em Setúbal o galeão a vapor na arte do cerco americano e os anteriores galeões, a remos e vela, são convertidos para carga, sobretudo fluvial, depois de modificado o convés e a armação. O casco não sofreu alteração e, com a sua forma alongada de entradas e saídas de águas finas, deu embarcações andejas e bolineiras muito diferentes dos iates e laitaus.

A armação foi modificada passando a área da enorme vela bastarda a ser repartida por uma vela carangueja e um estai, desaparecendo a pesada e longa verga do bastardo. Tornou-se, assim, possível reduzir a tripulação a dois homens ou, no limite, a um casal. Ficou com a armação de cuter, com um mastro vertical, sem gurupez, amurando a vela de estai na roda de proa. A vela grande tem duas ou três ordens de rizes e ferra para a carangueja arreada no convés. O casco era de popa ogivada com leme por fora e a proa quase vertical. O convés era corrido, com duas grandes escotilhas para a carga pela ré do mastro, uma mais pequena para vante do mastro, e dois albois, um para o rancho da proa e outro para a câmara da popa.

“Os primeiros galeões de carga resultaram, assim, da reconversão dos galeões da pesca, inicialmente os mais pequenos, menos rentáveis na pesca. Posteriormente e até 1954, construíram-se muitos galeões de casco semelhante aos primitivos, mas maiores.”

Comprimento fora a fora (comp. total) 13 a 18 metros
Boca (largura máxima) 3,7 a 4,3 metros
Pontal (altura do casco) 0,9 a 1,2 metros

Excerto do texto de Henrique Cabeçadas “Embarcações Tradicionais Sado”

sábado, 2 de janeiro de 2010

Negros de Alcácer ou mulatos da Ribeira do Sado



Durante séculos a Lezíria e Ribeira do Sado foram um território desabitado, com fama de insalubridade, rodeado de charnecas e gândaras. Apenas a exploração das salinas implicava a deslocação de trabalhadores temporários, funcionando o rio como via de comunicação e escoamento de diversos produtos regionais e locais, de onde avultava o sal, produto que pelo menos desde o século XVI a meados do século XX, constituiu a principal actividade económica das regiões ribeirinhas entre Alcácer e Setúbal. O paludismo, localmente conhecido por febre terçã ou sezões, era um mal endémico, correndo ainda hoje a versão que a pouca população existente em períodos anteriores ao século XX era constituída por africanos - supostamente imunes à doença - aí fixados pela Coroa como forma de assegurar alguma agricultura. Lenda ou não, o certo é que Leite de Vasconcelos na sua monumental Etnologia Portuguesa, refere e descreve os chamados pretos de Alcácer ou mulatos da Ribeira do Sado, correspondentes a habitantes desta região que apresentavam nítidos traços africanos.


ALENTEJANOS DE PELE ESCURA


Ribeira do Sado,
Ó Sado, Sadeta.
Meus olhos não viram
Tanta gente preta.

Quem quiser ver moças
Da cor do carvão
Vá dar um passeio
Até São Romão.
(do cancioneiro popular de Alcácer do Sal, Alentejo, sul de Portugal)

Ribeira do Sado é o nome de uma região que se estende ao longo do vale do Rio Sado, no sul de Portugal, a partir de Alcácer do Sal e para montante, não longe de Grândola, a Vila Morena. São Romão do Sado é uma das aldeias existentes na referida região.
Quem agora for passear pela Ribeira do Sado, já não verá gente verdadeiramente preta diante dos seus olhos, nem encontrará moças da cor do carvão propriamente dito na aldeia de São Romão. A mestiçagem já se consumou por completo. Mas são por demais evidentes os traços fisionómicos observáveis em muitos dos habitantes da região, assim como a cor mais escura da sua pele, que nos remetem imediatamente para a África a Sul do Sahara.
Nem sequer é preciso percorrer a Ribeira do Sado. Se nos limitarmos a dar uma ou duas voltas pelas ruas de Alcácer do Sal, por certo nos cruzaremos com uma ou mais pessoas que apresentam as características fisicas referidas. São os chamados mulatos de Alcácer, por vezes também designados carapinhas do Sado.  O seu aspecto é semelhante ao de muitos cabo-verdeanos, mas eles não têm quaisquer laços com as ilhas crioulas. São filhos de portugueses, netos de portugueses, bisnetos de portugueses e assim sucessivamente, ao longo de muitas gerações. Quando falam, fazem-no com a característica pronúncia local. São alentejanos.

É frequente atribuir-se ao Marquês de Pombal a iniciativa de promover a fixação de populações negras no vale do Rio Sado. Mas não é verdade. Existem registos paroquiais e do Santo Ofício que referem a existência de uma elevada percentagem de negros e de mestiços em épocas muito anteriores a Pombal. Segundo tais registos, já no séc. XVI havia pessoas de cor negra vivendo nas terras de Alcácer.

O vale do Rio Sado, no troço indicado, é um vale alagadiço onde hoje se cultiva arroz. Até há menos de cem anos, havia muitos casos de paludismo nesse troço. A mortalidade causada pelas febres palustres fazia com que as pessoas evitassem fixar-se naquela região. No séc. XVI, muitos portugueses embarcavam nas naus, o que agravava ainda mais o défice demográfico existente. Terá sido esta a razão por que, naquela época, os proprietários das férteis terras banhadas pelo Sado terão resolvido povoá-las com negros, comprados nos mercados de escravos. Os mulatos do Sado dos nossos dias são, portanto, descendentes desses antigos escravos negros.