quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As influências Árabes no nosso Alentejo

Durante muito tempo  procurou-se minimizar, ou até mesmo negar, a enorme influência cultural árabe em Portugal e no Alentejo, onde chegaram no século VIII e só saíram no século XIII. A Igreja e a antiga historiografia portuguesa não pouparam esforços para destruir qualquer menção à enorme importância dessa cultura oriental sobre o país. Pesquisas mais recentes, realizadas no século XX, levadas a cabo por estudiosos respeitados, colocam os pontos nos "is" e mostram-nos um cenário bem diferente.


A invasão de povos islâmicos  deu-se em Portugal no início do século VIII. Curiosamente, tudo começou com a disputa de duas facções locais para a escolha do novo rei visigodo. Os filhos do visigodo Vitiza solicitaram a ajuda de Tarik, da Mauritânia, que comandou um exército maioritariamente composto por berberes, mas também com árabes e judeus, que invadiu a península. Um ano mais tarde, novas forças vindas do norte da África, desta vez compostas por árabes, chegaram ao sul da Espanha e foram conquistando toda a Península Ibérica. O processo durou cerca de 5 anos.

Árabes e berberes tinham em comum a fé islâmica, uma religião que se iniciara há apenas um século na Arábia, e já ganhava outros continentes. Ao contrário dos visigodos, esses homens chegaram à região sem as suas famílias. O Alcorão permitia que cada um tivesse até quatro esposas, além de eventuais concubinas. De simples soldados a príncipes e reis, o casamento com mulheres locais foi inevitável, dando origem a uma profunda miscigenação que levou alguns estudiosos a descreverem o alentejano como sendo alguém com o espírito de um romano no corpo de um árabe. Tal fato pode ser constatado por aqueles que visitem a região mediante a observação do tipo físico da maioria de seus habitantes.

Passados os primeiros anos da conquista, a política muçulmana em relação aos vencidos foi marcada por grande tolerância cultural e religiosa. Os cristãos poderiam guardar a sua religião mas deveriam pagar um tributo ao Califa sobre tudo que produzissem. Tal fato fez com que muitos se convertessem à nova fé para se verem livres desse imposto, o que fez com que houvesse uma rápida integração entre esses povos, que acabaram por mesclar, de forma espontânea e pacífica, seus hábitos e costumes.

Como se pode deduzir, a influência árabe-muçulmana na região foi enorme, muito maior do que a dos povos anteriores, uma vez que a ocupação árabe durou cerca de 8 séculos. Além disso, aquando da Reconquista Cristã, modernos estudos realizados apontam para o facto de apenas a elite dirigente árabe ter sido expulsa, tendo ficado na região a maior parte da população. Exames de DNA da população de nossos dias comparadas com as do período muçulmano  comprovam-nos que são praticamente iguais.

Uma presença assim tão forte marcou profundamente a cozinha do sul de Portugal, ainda mais se considerarmos que o Alcorão não é apenas um livro religioso, mas que dita normas também sobre a conduta e a dieta alimentar de seus súbditos. No entanto, não houve uma postura, digamos assim, “fundamentalista” com relação aos costumes dos povos autóctones. Os muçulmanos, enriquecidos por suas conquistas, foram absorvendo alguns hábitos das elites dos povos, embora guardando o essencial da sua própria tradição. O Corão estabelecia o que era proibido e o que era permitido, puro e impuro, mas com interdições menos rigorosas do que as estabelecidas pelo judaísmo.

Os alimentos, ingredientes e pratos de inspiração árabe que chegaram à região são inúmeros, só perdendo em número para os vocábulos árabes absorvidos pela língua portuguesa (mais de mil). A cozinha árabe nasceu numa região de poucos recursos e se baseava no pastoreio (de onde provinham o leite, a coalhada, os queijos e a carne do borrego) e nos legumes. Em regiões mais férteis se somavam os cereais e as frutas. Tal escassez deu origem ao tharid ou târida, que consistia de pão mergulhado em um caldo aromatizado e temperado com azeite. Nesse caldo  poderia-se agregar as mais variadas carnes e vegetais dependendo do que estivesse à disposição, e  constituía-se uma refeição completa. Essa foi a origem do mais tradicional prato alentejano, a Açorda.

O poejo, o coentro, o borrego de carne gorda, as sobremesas bem açucaradas à base de amêndoas e nozes, são coisas da culinária árabe. Também uma série enorme de especiarias que agregavam aroma e sabor à comida, através de uma refinada e imaginosa combinação dos ingredientes: a alfazema, a água de rosas, a canela, a noz moscada, frutas secas (tâmara, uva-passa, pinhões, pistaches) e frescas (romã, maçã), sem falar do açúcar e do mel.

in:AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

4 comentários:

Anónimo disse...

Mas senão foi bem assim, como é que foi?
Desembuche homem ou tem medo de se falar? Reponha então a verdade dos factos e deixe-se de evasivas!
Chame os bois pelos nomes! Ou o Mário Crespo é um mentiroso e deve mesmo ir ao psiquiatra, ou você já está borrado de medo por estar a jantar com a Bárbara, nas costas do Carrilho!
O que nos interessa é saber se Sócrates disse em alto e bom som, pois parece que mais gente ouviu, que o jornalista em causa:
Fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”).
Fui descrito como “um profissional impreparado”!!!!

Couvegalega, em 2010-02-03 10:42:39

As bichonas que estão no governo e as que estão fora do governo na comunicação social no seu melhor! Está tudo louco, como diria a Ivone. Cá para mim, isto é tudo verdade porque é mesmo conversa de bichonas.
A grande questão é como correr com esta cambada sem beliscar em tabus sagrados da democracia. Difícil!

dadicha, em 2010-02-03 10:35:31

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=161591&tab=community

Anónimo disse...

A imaginação é magia e é arte
que nos faz inventar, sonhar e viajar.
Com imaginação podemos ir a Marte
ou ao centro da Terra, ou ao fundo do mar.

Com imaginação nunca estamos sozinhos.
A imaginação é um voo, um lugar
onde temos amigos, onde há outros caminhos
nos quais, sem te mexeres, podes ir passear.

Inventa uma cantiga, um poema, um desenho
um arco-íris, um rio por entre malmequeres;
esse lugar é teu, sem limite ou tamanho.
A esse teu lugar, só vai quem tu quiseres.

Rosa Lobato de Faria

Anónimo disse...

"Sempre que te questionarem se sabes fazer um trabalho, responde, 'concerteza que sim' - e não descanses enquanto não descobrires como realizá-lo"
T. Roosevelt

PM disse...

Ó Pina, segurança a quanto obrigas!

“Segurança visceral”

Quando no ano de 1994 tive que fazer algumas deslocações ao México por motivos profissionais lembro-me bem que os procedimentos de segurança para embarque num voo intercontinental apenas contemplavam a revista aleatória das bagagens e a vistoria pessoal através de um bastão electromagnético para detecção de objectos metálicos.

Já nos voos domésticos na época não recordo qualquer procedimento particular de segurança, a não ser o preenchimento de um pequeno questionário, o embarque era feito a pé pela pista até ao aparelho e as bagagens não eram sequer inspeccionadas.

Coincidiu com uma das minhas estadas nesse país o infeliz acontecimento que foi o assassinato do candidato à presidência pelo Partido Revolucionário Institucional, Luis Donaldo Colosio, e aí o incremento das medidas de segurança nas ruas e aeroportos resumiu-se à presença do exército e aumento do número dos efectivos policiais para vigilância, pois não existia ainda a vídeo-vigilância.

Mais tarde o recurso à vídeo-vigilância foi-se banalizando, a instalação de pórticos electromagnéticos para controlo de passageiros e de scanners ultra-sónicos para inspecção de bagagens passaram também a ser conhecidos de todos, mais tarde tivemos também que passar descalços nos pórticos e o calçado passava junto com a bagagem de mão, não sei se foi moda ou se a prática ainda se mantem.

Mais recentemente e com a necessidade de apertar ainda mais as medidas de segurança vieram os scanners corporais que já permitem inspeccionar-nos até à epiderme sem termos que nos despir, a proibição de transporte de líquidos, entre outras medidas, tudo em prol de uma segurança máxima que todos nós já não dispensamos.

Nesta década e meia muito se evoluiu em matéria de segurança, mas que fazer agora que os terroristas ameaçam realizar intervenções cirúrgicas para colocar explosivos líquidos nas entranhas mais profundas dos seus corpos ? Já se adivinha a necessidade de realização de uma endoscopia antes de embarcarmos num qualquer voo, estamos assim prestes a entrar na época da segurança visceral.